> CASAPONTOCOME: outubro 2011

Visita inesperada

São quase onze horas de uma noite de temporal.
Cada um no seu sofá.
Eu tenho a manta.
Já dormi e acordei algumas vezes durante o filme, mas agora acordei de vez com uma explosão e vou ver o resto, decido.
Ele apercebe-se, não sei como, do meu despertar definitivo, gira a cabeça na minha direcção. “Já acordou?...”, pergunta. Sorrio.
Passados uns minutos de absoluta concentração no filme, a sala numa silenciosa penumbra, ele voa do sofá, de comando na mão, fica de gatas no tapete e desata a bater com o comando no chão junto às cortinas. Atónita, sento-me num pulo. “O que foi??” Vejo uma coisa preta a saltar depois da última pancada no chão… Era a tampa das pilhas do desgraçado comando. “Era uma aranha, mas fugiu.” Sinto um arrepio, principalmente por saber que não era qualquer aranhiço que lhe causaria aquela reacção. Vejo ao longe o bicho a equilibrar-se sobre o rodapé, pata ante pata, numa provável tentativa de passar despercebido.
Minutos, lanterna e insecticida mais tarde, o bicho, não muito pequeno, por sinal, encolheu-se numa bola de patas e recolheu-se junto à janela. Oiço as vozes imaginárias dos meus alunos na frase tantas vezes repetida “Mas a professora é de Biologia!” e respondo, também mentalmente “E quê? Alugava-lhe um quarto cá em casa, não?”. O novelo escuro que era a aranha começa a desenrolar-se novamente, estilo contra-ataque... Antes de poder soltar o ar que estava a inspirar, provavelmente num grito, surge uma vassourada estratégica que lhe gora os esforços. Meu herói…
Eu não vou a casa delas sem ser convidada, portanto agradeço que também não me visitem.

Kefir - parte I


Há uns anos atrás, estava a trabalhar no Porto e uma das senhoras que trabalhava comigo falou-me de um “cogumelo do leite” que fazia bem “a tudo” e ainda emagrecia. E esta foi a minha introdução ao Kefir.
Entretanto perdemos o contacto e só agora, que tenho mais tempo, andei a pesquisar na internet e voltei a interessar-me por esta maravilha da natureza. A informação disponível é muito vasta e na sua maioria, carregadinha de incorrecções científicas, mas na base, parece-me haver de facto vantagens no consumo desta bebida.
E não, não é um cogumelo, apesar de haver quem lhe chame assim. Os grãos de Kefir de leite consistem numa colónia de microrganismos que vivem em simbiose, isto é, a sua união é vantajosa para os intervenientes. Foram já analisados e identificados cerca de 40 espécies de microrganismos nessas colónias, sendo basicamente fungos e bactérias.
Antes de começarem a gritar com ideia de andar para aí a comer bactérias e fungos, para quem não sabe, TODOS os iogurtes que já comeram na vida foram fabricados com recurso a bactérias, os lactobacilos, e temos inúmeras espécies destes seres vivos a viver em permanência em diferentes partes do nosso organismo. Um pequeno desequilíbrio desta flora e temos uma série de doenças que podem até conduzir à morte, portanto respeitinho pelos nossos pequenos aliados!
Existe Kefir de água e de leite. Para mim só o de leite me cativa, até porque dizem que o sabor é idêntico ao do iogurte.
Uma das coisas bonitas que aparece recorrentemente em todos os artigos é o facto de não se poder vender ou comprar Kefir. Tem de ser doado. Há quem tente esse negócio, mas por um lado é muito mal visto e por outro seria quase impossível o comércio sem que as colónias morressem no processo.
Assim, num dos sites de partilha de Kefir em Portugal, contactei um doador e arranjei os meus primeiros grãos! Em breve poderei doar também, logo que a colónia cresça!
A saga do meu Kefir continua em breve…

Escapar

Hoje lembrei-me da importância dos escapes. Não, não desses…
Cada pessoa tem de ter o seu e, se necessário, acumular vários. Para alguns o escape é discutir ou conversar, para outros os escapes são mais artísticos: pintar, bordar, esculpir, cozinhar… Há quem prefira ir ao ginásio e exercitar o corpo até afugentar as frustrações e o stress do dia ou da semana. Ir ao cinema, correr, caminhar, ver o mar, tocar um instrumento…
Basicamente é aquela coisa que você sente necessidade de fazer quando está triste / amargurado / irritado / nervoso / ansioso, etc. Depois de o fazer volta ao equilíbrio, alivia e relaxa. Perceba qual é o seu e use sempre que necessário. A ausência prolongada de escapes pode ter efeitos nefastos.
O meu escape principal, desde que me lembro, sempre foi escrever. Na minha adolescência (e para lá dela também) andava sempre com um caderninho pequeno, de folhas brancas, onde escrevia tudo o que me apetecia e sempre que me apetecia. Coisas pequenas, às vezes só uma ou duas frases. Comecei a chamar-lhe o “livrinho dos disparates”. Ainda o tenho comigo e gosto de reler algumas coisas. Em cada registo punha a data, portanto sei identificar as épocas da minha vida a que correspondem. Um dia destes transcrevo para aqui um ou outro fragmento.
Hoje tenho escapes mais variados. Cozinhar tornou-se um deles. Comer pode um escape perigoso, por isso, evito usá-lo… O ginásio foi um escape a que me obriguei, mas tem um modo de funcionamento curioso: nunca me apetece ir mas quando saio penso sempre que valeu a pena pelo bem estar que dá.
Se se sentir subitamente engolido por qualquer coisa externa, que o faz ter vontade de fugir, já sabe: escape!

Histórias de encantar




Às vezes tenho vontade de entrar pelo mundo da fantasia adentro e desatar à chapada! A Gata Borralheira era logo a primeira, para deixar de ser parva e acordar para a vida...
É urgente actualizar os contos infantis para a nossa época e para o nosso país! As crianças de hoje podem crescer e tornar-se adultos revoltados! Eu revolto-me… de vez em quando e com muita contenção, claro, mas revolto.
A Gata Borralheira havia de ter sorte nos dias de hoje… a cheirar a fumo e a abóbora já não se conquistam príncipes! E as irmãs tinham conhecimentos… Haviam de arranjar maneira de fazer uma cópia do tal sapato, de maneira a servir a uma delas. Maridos ricos vão escasseando nos tempos que correm.
A cigarra devia ter sido eleita para algum cargo importante, ganhar rios de dinheiro, viciar-se em charutos e whisky e depois explorar a formiga, já que gostava tanto de trabalhar. Quando estivesse para ficar efectiva corria com ela! Formigas não faltam.
Um dia vou escrever uns contos, vou. Mas qualquer um que comece com “Era uma vez uma menina muito boazinha, que fazia sempre o que era certo, nunca se zangava com as maldades à sua volta e dava sempre o seu melhor em tudo o que fizesse…” nunca poderia ter um final feliz. Pelo menos por estas paragens…
Bem, estou irritada, portanto vou fazer sopa! Fui.

Alegrias escondidas




Às vezes andamos menos alegres, mesmo nós, os positivos e optimistas.




E é nesses dias que devemos simplesmente procurar melhor.


À espreita estará sempre um motivo para um sorriso ou até mesmo para uma gargalhada.




Recordo-me de um fim de tarde, caminhando pelas ruas frias de Vila Real, em que reparei numa minúscula planta que crescia a custo entre as pedras do chão. Era ao mesmo tempo tão forte e tão frágil que tive de sorrir.




Esta foto foi tirada há pouco tempo em Ponte de Lima: numa certa tarde em que olhei para cima e vi um enorme porco de peluche numa janela... e sorri.

Ordem na casa

Vamos lá começar a agitar vidas!
Em tempos de crise, em que só se ouve falar de desgraças e pessimismo, há que travar estas notícias e tentar fazer o melhor para melhorar a NOSSA vida.
O país não vai bem, ou melhor, a economia nacional e internacional não vão bem, mas lamentavelmente a sua vida depende mesmo é de si, das suas decisões e escolhas, da sua disposição e da sua auto-estima. E, quem sabe, se cada um tentar dar o melhor de si no dia-a-dia, um dia não teremos boas notícias para ouvir?...

Muitas vezes o telejornal começa e até que acaba só ouvimos notícias más.
Vamos começar por dizer: já chega. Haverá algum benefício em assistir a este desfiar de tristezas e angústias diariamente? Se achar que sim, se consegue manter algum distanciamento em relação às suas emoções e bem estar, muito bem. Se, pelo contrário, se sente angustiado, amedrontado face ao futuro por ter que assistir diariamente à lista de desgraças em que se transformaram os telejornais, é simples: desligue! Procure bem! Todas as televisões têm este botãozinho, por muito sofisticadas que sejam. E se comprar um jornal ao fim-de-semana, vai ver que tudo parece menos assustador quando é lido por nós e não gritado por outras pessoas com músicas de fundo trágicas, na televisão.

Aproveite cada dia para melhorar a sua vida! Hoje pode ser sempre melhor que amanhã!


Casa, ponto e come

A casa é a nossa, a minha, a sua… a dos outros. Logo que haja um sítio ao qual chamemos casa, coisas começam a surgir. Vontades de o tornar mais nosso, de nos revermos nas pequenas coisas.
As casas acabam por ser apenas espaços, onde vamos espalhando detalhes de nós próprios para nos sentirmos bem. Para nos sentirmos... em casa.
Já conheci casas que eram apenas quartos, dentro de uma outra casa.

Os pontos são inúmeros, em ligação entre a casa e nós.

E comer. Mesmo para quem não come com prazer, há sempre alturas em que precisamos de nos debruçar sobre esta arte. O bem comer, que por trás tem sempre uma série de segredos e truques que só mesmo o tempo e a prática nos ensinam.

Para muitos o comer acaba por ser o ponto que está no centro da casa.