Sinto agora uma coisa que nunca me lembro de verdadeiramente ter
sentido nos últimos 30 anos: orgulho em ser portuguesa! Porque vi, com os meus
próprios olhos, um despertar deste nosso povo, que pode ser sereno, mas não é
parvo.
Finalmente, muitos de nós saíram de casa, apenas para mostrar a
quem manda, afinal quem manda mesmo. Saímos para a rua, com alguma apreensão,
com algum receio e uma secreta quase-certeza de que íamos ser poucos, mas
afinal acordámos mesmo! Um mar de gente percorreu as ruas de Portugal a gritar,
a fazer barulho, a mostrar que assim já não dá mais. Por cá, suportaram-se uns
34 graus de calor ardente, debaixo do sol da três da tarde. E ninguém arredou pé!
Cada vez éramos mais e mais. No final, enchemos uma praça até perder de vista e
ficámos a ouvir o que cada um, dos que quiseram falar, tinha para dizer. E eram
os nossos desejos, as nossas angústias, de todos nós. Todos queremos o mesmo!
Não vi, à minha volta, partidos nem sindicatos, vi gente como eu. Novos,
muito novos, velhos e muito velhos, com cartazes feitos em casa, à mão, sobre
um pedaço de cartão ou de tecido, com cornetas e apitos, com uma grande saturação
de quem foi aguentado tudo e agora explodiu. Cada um com sua queixa, mas todas
no mesmo sentido: assim já não dá mais!
Quando a nossa voz se dilui com as vozes de milhares, ganha uma
força e uma dimensão verdadeiramente assustadora. As palavras de ordem estão
velhas e destreinadas, já quase ninguém sabe a letra do “Grândola, vila morena”
até ao fim, mas o hino foi cantado com emoção e sem erros, até sentir a
garganta a fechar, por ver que afinal ainda estamos vivos.
Um homem, do alto dos seus 60 anos, ao meu lado, disse para a
mulher: “Vês? Vês como o pobre pode muito, afinal?” E eu sorri e pensei Podemos
sim! Podemos tudo!
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