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Um dia normal


“Então e estás a gostar?” Não consigo evitar uma gargalhada interior quando oiço esta pergunta nos últimos tempos. Felizmente, dá-me mais para rir, porque chorar faz-me ficar feiosa.
Ontem à noite, no meio do remoinho de pensamentos e ideias angustiantes que me tiravam o sono, apercebi-me que ando a viver em todos os tempos menos neste, senão vejamos: acordo a pensar no quanto que me apetecia dormir, arranjo-me a pensar que já devia estar a tomar o pequeno-almoço e como a pensar nas coisas de que não me posso esquecer quando for para o carro.
Conduzo a pensar em chegar ao trabalho e trabalho a contar as horas que faltam para ir almoçar. Ao almoço, mal consigo comer, porque estou stressada com o que aconteceu de manhã, ou com o que vai acontecer de tarde, ou ambos. Regresso e repito a dose, até ser hora de sair.  
Eu, a maior propagandista do viver no agora, do aproveitar o momento presente ao máximo, ando assim, distribuída entre o passado e um futuro cada vez mais estranho.

- “E então, como correu o teu dia?”.
- “Normal”.   

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