Como AQUI mencionei, já vivi em muitos locais de Portugal. Rapidamente
descobri que, para um país tão pequeno, há coisas que variam de terra para
terra, e muito. Estou a falar dos
nossos bolos.
Por exemplo, no Alentejo, um “Rim de chocolate” é uma espécie de “Éclair”
nortenho, nome este que, para mim, sempre esteve associado apenas aos fechos da
roupa.
Há também os “Babás” que faziam as minhas delícias por terras do
Sul: encharcados numa calda doce, com um colarinho de fios de ovos (ou “palha
de Abrantes”) e uma gola de creme branco. No topo, a rematar, um quadradinho de
massa do próprio. Pois estes pobres bolos, porque devem ter crises de
identidade gravíssimas, são chamados de “Napoleões” ou “Borrachões” na zona de Aveiro.
O sabor, esse, é semelhante.
Ora, para evitar trocas, confusões e caras tipo: “Ora você é então
extraterrestre, hein…”, em caso de dúvida peço “um bolo destes” e aponto para as
vitrines. Mas só em caso de dúvida.
Um destes dias fui a uma pastelaria (no Minho) e pedi um caracol
de frutas. Primeiro, porque estava na esplanada e segundo, porque pensei que não
havia dúvida possível. Estes bolos até se vendem nos hipermercados, centros de
massificação pasteleira nacional e o que vem escrito na etiqueta? “Caracol de
frutas”, pois então! Ora o empregado olha para mim, olha para dentro e repete, já
com meio sobrolho carregado: “Um caracol…” E pronto, lá vamos nós. Uso o dedito
e faço uma espiral na palma da mão, acrescento um círculo feito com as duas mãos,
digo que tem cubinhos de fruta cristalizada. Ele coça a cabeça.
Arrependo-me de não ter fixado os bolos vizinhos quando espreitei
a vitrine. Agora podia vitoriosamente dizer: “está ao lado dos pastéis de nata!”
Mas não. Estamos num impasse.
Nisto acende-se uma luz na cara de parvo do homem: “Aaah! Um rolo!
Tem frutinhas, não é? É o rolo de frutas.” Sorrio. Continuo o debate pasteleiro
mentalmente, enquanto espero. Como é que aquilo se pode, em algum ângulo,
parecer com um rolo?
Quando chega, dou uma dentada gulosa no bolo e concluo que
adoro o caracol de frutas, mesmo que lhe chamem outras coisas.
Cada terra com seu uso
ResponderEliminarÉ verdade! E o mais seguro deve mesmo pedir "um bolo destes". Beijinho
EliminarConfesso, que já me ri com esta história. Sim, estou a imaginar tu a pedires o caracol com naturalidade e o fulano a pensar: mas que raio é que ela quer???
ResponderEliminarbem-haja à casa!
E foi tal e qual! A cara dele era tipo... "Esta agora quer comer um caracol??" Nomes de pastéis em Portugal... O melhor é mesmo apontar e pedir "Um bolo destes"! Bjinhos
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