Ora como devo ter alguma coisa de esponja-de-sotaques, sempre que passo mais de 6 meses a viver numa terra, absorvo parte da respectiva pronúncia local e incorporo-a no meu próprio dialecto. E digo dialecto porque agora tenho uma mistura tal de pronúncias, que já não é propriamente de um só lugar, mas de vários. Quando me acabam de conhecer, desenvolvendo-se os laços mínimos da confiança, a pergunta é inevitável: “Donde é? É que a sua pronúncia…” Tinha alunos que faziam apostas sobre a origem da minha pronúncia enquanto não descobriam a história real do meu percurso geográfico.
O que acho curioso é que, em todos os sítios por onde passei, invariavelmente as pessoas tinham pronúncia e negavam a sua existência. Claro que há sempre quem tenha mais ou menos sotaque, mas em cada região há pronúncia própria mesmo que seja em pequenas subtilezas.
Neste momento vivo perto de Braga e aqui os “a” são abertos. Muuuito abertos. A própria palavra Braga denuncia logo os seus habitantes. Por acaso este é dos meus sotaques preferidos.
Há pouco tempo estava em Guimarães e ouvi uma mãe a chamar o seu filho na rua: “Oh Quinhe! Quiiinhe! Ánda já aqui à mainhe!” E acho adorável. E tenho a certeza que se alguém perguntar à senhora se acha que tem pronúncia ela vai responder um não daqueles redondos! E só posso sorrir quando pessoas nas lojas onde vou me dizem “A menina num é de caá pois náão? Eu bi luogo… pla sua pronúuncia…”