Esta foi uma das coisas mais estranhas que já me aconteceram.
Eu devia ter uns 14 anos e estava a passar uns dias em casa da
minha avó, com o meu irmão mais novo. A casa tem 2 andares e entre eles há dois
lanços de escadas. O quarto da minha avó ficava no andar de baixo e o nosso, no
andar de cima, ao fundo do corredor.
Desde que me lembro, que gosto de ler antes de adormecer. Já devia
passar das 23h e estávamos os dois a ler nesse quarto. A minha avó deitava-se
muito cedo, portanto já devia ter adormecido há muito. Não havia mais ninguém
em casa naquela noite.
Na altura, um tio meu tinha comprado um CD dos U2 e eu andava
viciada em ouvi-lo. Apeteceu-me ouvir uma das músicas e disse ao meu irmão que
ia só à sala, ouvir uma música e já voltava. Fui, sem fazer barulho e sem
acender luzes, para não acordar a minha avó, lá em baixo. Liguei a aparelhagem,
pus a tal música baixinho e fiquei a ouvir e a olhar lá para fora, pelas
grandes janelas da varanda da sala. Estava de costas para a porta.
Nisto, oiço uns passos apressados e abafados atrás de mim, que
julguei virem da alcatifa à entrada da sala, pelo som. Virei-me, naturalmente,
à espera de ver o meu irmão, mas não vi ninguém e não ouvi mais nada. Não
fiquei minimamente assustada, porque sabia que só podia ser o meu irmão: com
certeza veio ter comigo e fugiu a correr para eu não lhe ralhar, pensei. Fui
pelo corredor fora, a sorrir, só para lhe dizer “Eu vi-te!”. Entro no quarto e
estava ele, no mesmo sítio onde o deixei, com o livro já caído sobre o peito, a
dormir profundamente. Já não saí mais do quarto. Nunca me lembro de fecharmos
as portas dos quartos naquela casa, mas fechei e tranquei a nossa e nunca
consegui explicação para aqueles passos que ouvi.